Próximo à hora do almoço. Vou para a cozinha ver o que teremos. Começo a esvaziar o escorredor de louças e, quase ao final do processo descubro que tenho uma hóspede de oito patas, longas e finas, que deveria estar perambulando por ali a procura de algo para comer, ou de um humano para matar: de susto, pelo menos. Do susto já estou curada, 15 anos no meio do mato fazem você entender quem é o invasor de quê: ela está bem no meio de seu território. Não reclamo: abro a janela de correr, retiro todos os vasos de planta que obstruem a abertura, termino de retirar a louça do escorredor, ergo-o suavemente, levando-o para fora da janela e dou uma sacudida para que a aranha se solte e caia lá fora mesmo. Me descuido e o escorredor bate num apoio de ferro redondo, plano e fino que fica embaixo de um vaso de orquídeas, o apoio cai. Terei de sair da cozinha e dar a volta na casa a fim de recuperar o disco de ferro. Enquanto caminho até o local penso sobre aonde a aranha terá se escondido, se estará raivosa e pronta para me atacar: olho em volta por prevenção, para a parede de pedras, para a calçada de cimento, para a janela. Nada da aranha. Deve ter entrado numa das fendas entre as pedras ou se escondido no meio da grama junto à calçada.
Abaixo-me a fim de apanhar o disco: Embaixo dele, uma maçaroca de patas e gosma cinzenta. Era a hora dela. Não era pra ser. Minha consciência está tranquila: Eu bem que tentei.
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