sexta-feira, 6 de maio de 2011

Operação Salvem as Aranhas

Próximo à hora do almoço. Vou para a cozinha ver o que teremos. Começo a esvaziar o escorredor de louças e, quase ao final do processo descubro que tenho uma hóspede de oito patas, longas e finas, que deveria estar perambulando por ali a procura de algo para comer, ou de um humano para matar: de susto, pelo menos. Do susto já estou curada, 15 anos no meio do mato fazem você entender quem é o invasor de quê: ela está bem no meio de seu território. Não reclamo: abro a janela de correr, retiro todos os vasos de planta que obstruem a abertura, termino de retirar a louça do escorredor, ergo-o suavemente, levando-o para fora da janela e dou uma sacudida para que a aranha se solte e caia lá fora mesmo. Me descuido e o escorredor bate num apoio de ferro redondo, plano e fino que fica embaixo de um vaso de orquídeas, o apoio cai. Terei de sair da cozinha e dar a volta na casa a fim de recuperar o disco de ferro. Enquanto caminho até o local penso sobre aonde a aranha terá se escondido, se estará raivosa e pronta para me atacar: olho em volta por prevenção, para a parede de pedras, para a calçada de cimento, para a janela. Nada da aranha. Deve ter entrado numa das fendas entre as pedras ou se escondido no meio da grama junto à calçada.

Abaixo-me a fim de apanhar o disco: Embaixo dele, uma maçaroca de patas e gosma cinzenta. Era a hora dela. Não era pra ser. Minha consciência está tranquila: Eu bem que tentei.

sábado, 23 de abril de 2011

Pérolas

Ontem a noite, enquanto brincava com as pérolas de plástico do meu longo colar de três voltas me dei conta de que as verdadeiras são o fruto de um sofrimento intenso, metabolizado, trabalhado, resolvido. São as lágrimas do mar.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

O Dom de Voar

Larguei a bacia cheia de roupas secas, recém recolhidas do varal no chão a fim de poder me concentrar completamente num ponto prateado que rasgava o céu deixando um rastro branco: era um avião. Sempre faço isto, sempre me fascinou ver toneladas de ferro rígido atravessar os ares levando cem, duzentas histórias de vida, milhares de anos de evolução, trabalho e tecnologia: É um milagre. Lá vai ele, não bate as asas, mas faz bater meu coração. Quando já vai bem longe, parece só um ponto. Não tem rastro, não se move mais. Mas ainda é o avião. Por fim desaparece e fico com a vívida lembranças das leituras que fiz do "Dom de Voar", do excelente autor Richard Bach, e desejando muito saber por que, Santos Dumont, por quê?

sábado, 16 de abril de 2011

Reciclagem de Filtro de papel

Adoro trabalhar com reciclagem, aí vai um passo-a-passo que recicla um espelho de tomada com filtros de café, é a dupla reciclagem! fica uma imitação de couro, o trabalho pronto é muito bonito!

Para fazer um igual você vai precisar de:

Pincel, cola para papel, espelhos de tomadas velhos, podem ser quebrados e/ou rachados, coadores de papel usados, quatro cores de tinta acrílica fosca (marrom escuro, claro, bege e areia) e verniz para finalizar.

Comece rasgando em retalhos irregulares os filtros, depois espalhe cola no espelho e vá sobrepondo pedaços de filtro, acerte as bordas passando uma lixa no sentido contrário,continuando:

Após estes passos:

E ainda:

Abra os orifícios dos parafusos com o cabo do pincel, dê uma demão de verniz e aguarde a secagem, depois é só montar! você pode fazer de uma cor só, para combinar com sua parede, ou pintar flores, ou usar decupage com guardanapo! O que sua imaginação mandar.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Saudades de Drummond

Escrevi este poema para o homem cuja morte mais chorei em minha vida, para meu grande amor:


Saudades de Drummmond

A saudade, qual monótona canção de araponga,
Dói/ rói/ mói/ sói...
Ao martelar na minha mente que não voltas mais.
Mineiro,
Boiadeiro,
Engenheiro,
Jardineiro.
Cavou,
Conduziu,
Construiu,
Cultivou novas palavras (e tornou outras mais belas),
Trago tua orquídea de fogo e lágrimas sempre junto à lapela.

Descansa, dorme em paz, meu bom amigo.
O sono dos justos, dos mestres, dos profetas.
O sono dos puros, dos faustos, dos poetas.

Repousa, amigo meu, ousa,
Que mesmo o teu silêncio de agora
É loquaz e pertinente à lousa
Coerência louca da única certeza da vida: a morte.

E nesta tua peremptória ausência
Minha assaz e contumaz carência i’nda se inspira
Nos eternos ecos e sublimes arcanos
Advindos do vibrar da tua lira.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

A Customização da Magreza:Dr. Caveirinha e a Dieta dos Mantras

Resolvi Acabar com os quilinhos a mais de qualquer jeito, por bem, por mal ou por dieta e exercício físico. Fui no Dr. Caveirinha:

Dr., eu PRECISO perder peso, dá aquela receitinha pra mim, dá?"
Não!
Mas, Dr., eu estou muito gorda!
Não e não!
Mas por que, Dr.?
A Senhora não está obesa!
Quanto falta pra mim ficar obesa?
Cinco quilos e meio.
E se eu engordar isto e voltar aqui semana que vem?
NÃO!!!!

Como vocês puderam ver, devido à falta de cooperação e caridade cristã do Dr. Caveirinha, terei que apelar para uma nova "Dieta do momento", já fiz :
a da lua,
a da sopa,
a do chá,
a do suco,
a das frutas,
a do nada,
a dos pontos,

E, como nenhuma delas apresentou resultados satisfatórios, resolvi customizar e iniciar uma dieta própria: A Dieta dos Mantras. Funciona assim:

Na beira do fogão, enquanto você cozinha um belo almoço para as outras pessoas da casa, e o cheiro assassino da linguiça defumada fritando mobiliza todas as suas papilas olfativas e neurônios que tem a ver com comida, você fica repetindo:

"Esta linguiça tem exatamente o sabor de todas as linguiças anteriores, a única novidade será um novo peneu na minha cintura, dessa vez será um pneu de caminhão. Eu não sou um caminhão. Não preciso deste pneu, posso viver sem ele". Depois deste processo de conscientização moral, entra o mantra propriamente dito:

"Pneu, pneu, pneu" e, pra variar: "Pneu de caminhão, pneu de caminhão"

Neste ponto você faz a conexão com o subconsciente, pois seu cérebro já estará em ondas analfabetizadas: "Esta linguiça tem a cor,o cheiro e o sabor de um pneu de caminhão, meus sentidos são enganosos, tudo o que está na minha frente fazendo meu estômago gritar não existe, tudo que existe é o pneu, e só"

Neste momento você já deverá ter perdido toda a fome e se contentará com uma fatia de meio centímetro de espessura de ricota fresca com três folhas de alface e molho de manga com salsinha. Ah! Também tem direito a um copo d'água. Bom apetite!

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Fashionismo Para Dias Ruins: Uma Burca, Por Favor!

Tem dias que o cabelo da gente está de TPM, não abaixa, não fica no lugar, parece a cabeça da medusa pronta para dar um bote. O meu já está nesse dia Há uns quatro meses. Acho que não vai sair mais, entrei na menopausa justo durante a TPM, azar o meu.

Faz um tempinho, eu estava na platéia de um pequeno teatro aqui em minha cidade, e a linda, gostosa, poderosa, maravilhosa, dona de uns olhos verdes e de um charme de botar no chinelo muita garotinha de 20 anos, sendo que o seu maior dote está nos órgãos internos: seu cérebro, a septuagenária MARINA COLASANTI, ministrava uma palestra: "Quem nunca teve o seu dia de Gregor Samsa? quem nunca acordou um dia se sentindo um inseto?"

Pois é, Dona Marina. Eu hoje estou assim, na verdade, já faz uns três dias. Paguei um mico desgraçado por causa da minha boca grande, e o pior da ignorância é justamente quando ignora a si mesma. Pra todas as outras mais, dá-se um jeito. Enciclopédias, aulas particulares, vídeos educativos.

Por este motivo não tenho a menor vontade de sair às ruas. Exagero. Na rua eu não vou sair MESMO. Mas não quero nem ir ao quintal. Parece que cada folhinha da minha plantação de acerola (uns 30 pés) está olhando lá pra baixo, pra minha cara de barata Gregor Samsa a espera de um pé caridoso que me esmague, acabando com meu sofrimento. Elas dizem, felizes:

"Oi, Gregor!"

Droga. Não veem que sou uma barata fêmea?

Vou dar um jeito nisto, sei costurar muito bem, obrigada!
Entro no google e jogo "Como fazer uma Burca". Nada, parece que a democracia só favorece o que é senso comum, como o capitalismo selvagem, por exemplo. Quem será que costura as burcas que aparecem nas fotografias do oriente médio?

Não precisa ser uma dica de um Valentino, eu queria uma burquinha simples, mesmo, pretinha, básica, pra não chamar atenção, até por que, ao que me parece, é esta a intenção do modelito: sumir com a criatura da face da terra. Excelente para dias ruins. Você vê um vulto de burca na rua, e já sabe: não vai dar bom dia, não vai perguntar o que houve, vai deixar a criatura na santa paz de sua burca, envolta numa maçaroca de pano, tentando escapar dos próprios pés e ocasionalmente, num desses momentos, enfiando a cabeça num poste, pra acordar, e levar para a vida fora a lição de que em boca fechada não entra mosca, de que quem diz o que quer ouve o que não quer, de que quem guarda a sua língua, das angústias guarda a sua alma, durante, pelo menos, o tempo em que durar o galo na testa, sede da memória.

Alguém aí me arranja uma burca?