Tem dias que o cabelo da gente está de TPM, não abaixa, não fica no lugar, parece a cabeça da medusa pronta para dar um bote. O meu já está nesse dia Há uns quatro meses. Acho que não vai sair mais, entrei na menopausa justo durante a TPM, azar o meu.
Faz um tempinho, eu estava na platéia de um pequeno teatro aqui em minha cidade, e a linda, gostosa, poderosa, maravilhosa, dona de uns olhos verdes e de um charme de botar no chinelo muita garotinha de 20 anos, sendo que o seu maior dote está nos órgãos internos: seu cérebro, a septuagenária MARINA COLASANTI, ministrava uma palestra: "Quem nunca teve o seu dia de Gregor Samsa? quem nunca acordou um dia se sentindo um inseto?"
Pois é, Dona Marina. Eu hoje estou assim, na verdade, já faz uns três dias. Paguei um mico desgraçado por causa da minha boca grande, e o pior da ignorância é justamente quando ignora a si mesma. Pra todas as outras mais, dá-se um jeito. Enciclopédias, aulas particulares, vídeos educativos.
Por este motivo não tenho a menor vontade de sair às ruas. Exagero. Na rua eu não vou sair MESMO. Mas não quero nem ir ao quintal. Parece que cada folhinha da minha plantação de acerola (uns 30 pés) está olhando lá pra baixo, pra minha cara de barata Gregor Samsa a espera de um pé caridoso que me esmague, acabando com meu sofrimento. Elas dizem, felizes:
"Oi, Gregor!"
Droga. Não veem que sou uma barata fêmea?
Vou dar um jeito nisto, sei costurar muito bem, obrigada!
Entro no google e jogo "Como fazer uma Burca". Nada, parece que a democracia só favorece o que é senso comum, como o capitalismo selvagem, por exemplo. Quem será que costura as burcas que aparecem nas fotografias do oriente médio?
Não precisa ser uma dica de um Valentino, eu queria uma burquinha simples, mesmo, pretinha, básica, pra não chamar atenção, até por que, ao que me parece, é esta a intenção do modelito: sumir com a criatura da face da terra. Excelente para dias ruins. Você vê um vulto de burca na rua, e já sabe: não vai dar bom dia, não vai perguntar o que houve, vai deixar a criatura na santa paz de sua burca, envolta numa maçaroca de pano, tentando escapar dos próprios pés e ocasionalmente, num desses momentos, enfiando a cabeça num poste, pra acordar, e levar para a vida fora a lição de que em boca fechada não entra mosca, de que quem diz o que quer ouve o que não quer, de que quem guarda a sua língua, das angústias guarda a sua alma, durante, pelo menos, o tempo em que durar o galo na testa, sede da memória.
Alguém aí me arranja uma burca?
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