sábado, 23 de abril de 2011

Pérolas

Ontem a noite, enquanto brincava com as pérolas de plástico do meu longo colar de três voltas me dei conta de que as verdadeiras são o fruto de um sofrimento intenso, metabolizado, trabalhado, resolvido. São as lágrimas do mar.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

O Dom de Voar

Larguei a bacia cheia de roupas secas, recém recolhidas do varal no chão a fim de poder me concentrar completamente num ponto prateado que rasgava o céu deixando um rastro branco: era um avião. Sempre faço isto, sempre me fascinou ver toneladas de ferro rígido atravessar os ares levando cem, duzentas histórias de vida, milhares de anos de evolução, trabalho e tecnologia: É um milagre. Lá vai ele, não bate as asas, mas faz bater meu coração. Quando já vai bem longe, parece só um ponto. Não tem rastro, não se move mais. Mas ainda é o avião. Por fim desaparece e fico com a vívida lembranças das leituras que fiz do "Dom de Voar", do excelente autor Richard Bach, e desejando muito saber por que, Santos Dumont, por quê?

sábado, 16 de abril de 2011

Reciclagem de Filtro de papel

Adoro trabalhar com reciclagem, aí vai um passo-a-passo que recicla um espelho de tomada com filtros de café, é a dupla reciclagem! fica uma imitação de couro, o trabalho pronto é muito bonito!

Para fazer um igual você vai precisar de:

Pincel, cola para papel, espelhos de tomadas velhos, podem ser quebrados e/ou rachados, coadores de papel usados, quatro cores de tinta acrílica fosca (marrom escuro, claro, bege e areia) e verniz para finalizar.

Comece rasgando em retalhos irregulares os filtros, depois espalhe cola no espelho e vá sobrepondo pedaços de filtro, acerte as bordas passando uma lixa no sentido contrário,continuando:

Após estes passos:

E ainda:

Abra os orifícios dos parafusos com o cabo do pincel, dê uma demão de verniz e aguarde a secagem, depois é só montar! você pode fazer de uma cor só, para combinar com sua parede, ou pintar flores, ou usar decupage com guardanapo! O que sua imaginação mandar.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Saudades de Drummond

Escrevi este poema para o homem cuja morte mais chorei em minha vida, para meu grande amor:


Saudades de Drummmond

A saudade, qual monótona canção de araponga,
Dói/ rói/ mói/ sói...
Ao martelar na minha mente que não voltas mais.
Mineiro,
Boiadeiro,
Engenheiro,
Jardineiro.
Cavou,
Conduziu,
Construiu,
Cultivou novas palavras (e tornou outras mais belas),
Trago tua orquídea de fogo e lágrimas sempre junto à lapela.

Descansa, dorme em paz, meu bom amigo.
O sono dos justos, dos mestres, dos profetas.
O sono dos puros, dos faustos, dos poetas.

Repousa, amigo meu, ousa,
Que mesmo o teu silêncio de agora
É loquaz e pertinente à lousa
Coerência louca da única certeza da vida: a morte.

E nesta tua peremptória ausência
Minha assaz e contumaz carência i’nda se inspira
Nos eternos ecos e sublimes arcanos
Advindos do vibrar da tua lira.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

A Customização da Magreza:Dr. Caveirinha e a Dieta dos Mantras

Resolvi Acabar com os quilinhos a mais de qualquer jeito, por bem, por mal ou por dieta e exercício físico. Fui no Dr. Caveirinha:

Dr., eu PRECISO perder peso, dá aquela receitinha pra mim, dá?"
Não!
Mas, Dr., eu estou muito gorda!
Não e não!
Mas por que, Dr.?
A Senhora não está obesa!
Quanto falta pra mim ficar obesa?
Cinco quilos e meio.
E se eu engordar isto e voltar aqui semana que vem?
NÃO!!!!

Como vocês puderam ver, devido à falta de cooperação e caridade cristã do Dr. Caveirinha, terei que apelar para uma nova "Dieta do momento", já fiz :
a da lua,
a da sopa,
a do chá,
a do suco,
a das frutas,
a do nada,
a dos pontos,

E, como nenhuma delas apresentou resultados satisfatórios, resolvi customizar e iniciar uma dieta própria: A Dieta dos Mantras. Funciona assim:

Na beira do fogão, enquanto você cozinha um belo almoço para as outras pessoas da casa, e o cheiro assassino da linguiça defumada fritando mobiliza todas as suas papilas olfativas e neurônios que tem a ver com comida, você fica repetindo:

"Esta linguiça tem exatamente o sabor de todas as linguiças anteriores, a única novidade será um novo peneu na minha cintura, dessa vez será um pneu de caminhão. Eu não sou um caminhão. Não preciso deste pneu, posso viver sem ele". Depois deste processo de conscientização moral, entra o mantra propriamente dito:

"Pneu, pneu, pneu" e, pra variar: "Pneu de caminhão, pneu de caminhão"

Neste ponto você faz a conexão com o subconsciente, pois seu cérebro já estará em ondas analfabetizadas: "Esta linguiça tem a cor,o cheiro e o sabor de um pneu de caminhão, meus sentidos são enganosos, tudo o que está na minha frente fazendo meu estômago gritar não existe, tudo que existe é o pneu, e só"

Neste momento você já deverá ter perdido toda a fome e se contentará com uma fatia de meio centímetro de espessura de ricota fresca com três folhas de alface e molho de manga com salsinha. Ah! Também tem direito a um copo d'água. Bom apetite!

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Fashionismo Para Dias Ruins: Uma Burca, Por Favor!

Tem dias que o cabelo da gente está de TPM, não abaixa, não fica no lugar, parece a cabeça da medusa pronta para dar um bote. O meu já está nesse dia Há uns quatro meses. Acho que não vai sair mais, entrei na menopausa justo durante a TPM, azar o meu.

Faz um tempinho, eu estava na platéia de um pequeno teatro aqui em minha cidade, e a linda, gostosa, poderosa, maravilhosa, dona de uns olhos verdes e de um charme de botar no chinelo muita garotinha de 20 anos, sendo que o seu maior dote está nos órgãos internos: seu cérebro, a septuagenária MARINA COLASANTI, ministrava uma palestra: "Quem nunca teve o seu dia de Gregor Samsa? quem nunca acordou um dia se sentindo um inseto?"

Pois é, Dona Marina. Eu hoje estou assim, na verdade, já faz uns três dias. Paguei um mico desgraçado por causa da minha boca grande, e o pior da ignorância é justamente quando ignora a si mesma. Pra todas as outras mais, dá-se um jeito. Enciclopédias, aulas particulares, vídeos educativos.

Por este motivo não tenho a menor vontade de sair às ruas. Exagero. Na rua eu não vou sair MESMO. Mas não quero nem ir ao quintal. Parece que cada folhinha da minha plantação de acerola (uns 30 pés) está olhando lá pra baixo, pra minha cara de barata Gregor Samsa a espera de um pé caridoso que me esmague, acabando com meu sofrimento. Elas dizem, felizes:

"Oi, Gregor!"

Droga. Não veem que sou uma barata fêmea?

Vou dar um jeito nisto, sei costurar muito bem, obrigada!
Entro no google e jogo "Como fazer uma Burca". Nada, parece que a democracia só favorece o que é senso comum, como o capitalismo selvagem, por exemplo. Quem será que costura as burcas que aparecem nas fotografias do oriente médio?

Não precisa ser uma dica de um Valentino, eu queria uma burquinha simples, mesmo, pretinha, básica, pra não chamar atenção, até por que, ao que me parece, é esta a intenção do modelito: sumir com a criatura da face da terra. Excelente para dias ruins. Você vê um vulto de burca na rua, e já sabe: não vai dar bom dia, não vai perguntar o que houve, vai deixar a criatura na santa paz de sua burca, envolta numa maçaroca de pano, tentando escapar dos próprios pés e ocasionalmente, num desses momentos, enfiando a cabeça num poste, pra acordar, e levar para a vida fora a lição de que em boca fechada não entra mosca, de que quem diz o que quer ouve o que não quer, de que quem guarda a sua língua, das angústias guarda a sua alma, durante, pelo menos, o tempo em que durar o galo na testa, sede da memória.

Alguém aí me arranja uma burca?

Como Escrever um Best-Seller: O Efeito do Confinamento Sobre a Psiquê do Escritor ou A Teoria do Xadrez

Continuando o assunto, se você quer ir além da realização de ser um grande escritor, se o seu negócio é mais comercial e você deseja arrebatar o coração das pessoas enquanto acumula uma boa grana pra depois poder tirar umas merecidas férias no Caribe, então o buraco é mais em baixo. Estive analisando o que os três maiores best-sellers de todos os tempos tem em comum, e o que encontrei, infelizmente, não é para qualquer um.

N°1 - O livro que hoje é conhecido como o primeiro romance de todos os tempos, Dom quixote, traduzido para a maioria das línguas conhecidas e delicioso de ler até hoje, foi escrito enquanto Dom Cervantes passava uma temporada de ócio no xilindró, cana, cadeia! A fim de saldar algumas pendências com o fisco, o grande autor criou a personagem universal, que não só o tirou da pindaíba, mas continua quebrando o galho de muito editor que precisa investir uma grana com retorno certo enquanto espera a próxima J.K.Rowlling bater á sua porta numa noite de chuva.

Nº2 - Best Seller Ad Eternum, líder absoluta de vendagens, distribuição, traduções e número de leitores, O LIVRO, A Bíblia Sagrada teve grande parte de seus escritos elaborados enquanto seus autores amargavam o cárcere.

Nº3 - O Peregrino, o segundo livro em vendas depois da Bíblia, foi Escrito por John Bunyan durante o tempinho livre que tinha entre um nascer de sol quadrado e outro.

Pois é, parece que o negócio é dar um jeito de ir em cana, dizem que no Brasil existe até o "Bolsa Bandido", enquanto o cara mata um pai de família que nunca mais vai poder educar seus filhos, o governo libera uma grana pra família do "coitadinho" que puxou o gatilho não passar fome enquanto ele não puder voltar a "sustentá-los"(!?!)matando outro pai de família. Eu jamais seria tão radical, embora suba umas ganas assassinas quando as casas, legitimameante estabelecidas pelo voto livre e democrático decretam aumentos de 17.000 Reais/mês para si próprias, enquanto o povão só tem por si o Tiririca, que está me saindo melhor que a encomenda, sendo o único que votou a favor de uma esmolinha maior pro povo brasileiro. Não. jamé! A vida é sagrada. Se um dia bater um desespero grande pra publicar e não houver outra saída, já tenho o plano B para garantir uns bons anos de cana: vou roubar uma latinha de manteiga.

domingo, 10 de abril de 2011

Como se Tornar um Grande Escritor: A Teoria dos Trilhos

Devido à fascinação quase obsessiva por escritores e seus processos criativos, atento para tudo que encontro dentro do gênero "A Vida Secreta de Grandes Escritores". Entrevistas, palestras, biografias (autorizadas ou não) reportagens, enfim, vivo a cata de pistas sobre como um ser humano normal chega a se tornar um "narniano" das gavetas.

Um dos fatos que há anos vem me chamando a atenção pela frequência e intensidade com que vem ocorrendo após a Revolução Industrial é o fenômeno que chamo de "Grande Inspiração Súbita Associada às Companhias Ferroviárias" ou simplesmente Teoria dos Trilhos.

Destacarei aqui apenas alguns exemplos contundentes:

Nº1- J.K. Rowling, que dispensa apresentações, após ser despejada no meio da rua numa madrugada fria por seu marido português Jorge Arantes e ter de se virar morando num pardieiro sem aquecimento com sua pequena filha, Jéssica, conta que Harry Potter e sua trupe "baixaram" nela, prontos e divididos em sete livros, de cabo a rabo,numa manifestação de inspiração vulcânica durante uma viagem de trem.

Nº2- Numa entrevista que deu à televisão, o prêmio Nobel Gabriel Garcia Marquez relata que estava dentro de um trem, retornando a sua cidade natal, quando olha para fora do vagão e, entre o folharal verde brilhante de um bananal infinito vê uma porteira, e nela, despretensiosamente pendurada a placa com o nome da fazenda: Macondo.

Nº3 - Embora o Brasil não se destaque exatamente pelo transporte ferroviário, o nosso Moacyr Scliar, revelou que durante alguns anos procurava uma estratégia para escrever a biografia de Noel Nutels, a voz do livro. Estava na Alemanha, a trabalho, e eis que tudo se esclarece em sua mente quando entra e se senta calmamente...num trem.

Nº 4- E, apesar da mega-defasagem da malha ferroviária nacional, esta semana tive uma notícia de primeira grandeza, dada diretamente pela escritora Ana Cristina Ayer, conhecida como Índigo: ela comenta que sua inspiração costuma deixá-la esperando quando está sentada à sua espera em seu escritório, pórem, de pé, espremida num vagão alguma coisa-Itaquera, com o cotovelo de alguém na sua testa,lhe vem temas, idéias, soluções de conflitos para enredos, e que ela tem de descer rapidamente a fim de anotar as idéias, para que, caso seja pisoteada pela multidão insana na hora do rush paulista, elas sobrevivam (o que recai sobre outro ponto crucial: a superação da morte - idéia básica de todo escritor).

Sendo assim, deixo aqui a sugestão para os que querem enveredar pela carreira da pena: Viajem de trem! e, para os empreendedores de plantão, gente que não se importa de ganhar dinheiro enquanto sobrevive: Que tal lançar CDs na linha "sons da natureza" com o barulho de um trem em marcha, e até um piuízinho de hora em hora para o escritor se localizar na realidade, e não perder a hora do busão?

Enquanto a evolução não chega à minha cidade, o único trem de que disponho é o da Alegria, com um mickey encardido e um pateta fubento abanando mãos e rabos enquanto uma turma barulhenta de crianças do ensino fundamental circula pelo centro histórico. A bagunça das crianças não me preocupa, o trem possui vagões, chaminé e apito. Vou viajar sob o disfarce de minha profissão mesmo: professora de ciências. Minha única restrição, o que talvez possa por toda a estratégia inspiracional a perder, é que o trem usa pneus. sei lá, a sonoridade dos trilhos é completamente diferente, mas se der certo, daqui a alguns anos estarei contando a história.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Realengo: A Globalização dos Massacres nas Escolas

Tempo de Gritar

Há muito que eu me calo, e nada muda
Sou mestra na ciência do abandono
Há muito desisti da caminhada,
Há lama, sangue e caos onde era estrada

A morte e a vida são irmãs,
Siamesas, e não dá pra separá-las
no entanto, no seu ponto de junção
Se uma bala nos atinge o coração

De crianças, numa escola, em Realengo
É preciso gritar pelo que resta
Antes que o mal que nos espreita pela fresta
Nos engula toda voz e sentimento
Reduzindo o que ja é tão pó, e só,
à cinza dolorida de um lamento



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E agora, milhões de anos depois do último dinossauro, os piores monstros são bípedes, falantes, civilizados, cruéis, insanos. E eu, que pensei que Hitler não havia deixado descendentes. Como professora graduanda fico me perguntando sobre o final do arco-íris, onde buscar um pouco de esperança? Nem tento entender o que aconteceu, só oro, rezo, peço a Deus que abraçe o coração destes pais que apenas mandaram seus filhos para a escola numa quinta-feira como outra qualquer. Não para eles. Nunca mais. Como conseguirão suportar a dor, internacionalizada em links ao vivo, o mundo inteiro vendo seus filhos em uniformes encharcados de sangue, o prêt-a-portê macabro da globalização da mais cruel insanidade, o inconcebível virando moda: Copia-se tudo, até estilos de se matar crianças inocentes.quando isto vai parar?